1/13/2008


PARTE II

Certa vez, muitos anos atrás, houve um homem extraordinário. Ele viajou à Lua e lá encontrou uma nave de uma civilização moribunda.
Esse homem mítico voltou à Terra, trazendo verdadeiros presentes do céu.
A nova tecnologia permitiria ao homem viajar pelo espaço e conquistar as estrelas.
Mas a humanidade não ficou satisfeita.
Embora o homem tenha impedido um guerra que acabaria com toda a vida sobre o planeta – e talvez por isso mesmo – eles o perseguiram. Esse homem foi considerado o inimigo número um da humanidade.
Isso foi há muito tempo.
O nome do homem era Perry Rhodan.
Entretanto, houve pessoas que acreditaram nele, no ideal de uma sociedade unida em torno de um sonho espacial.
Eu fui uma dessas pessoas.
Eu... John Marshall.
O homem venceu e sob sua liderança a humanidade lançou seus foguetes para todos os planetas do sistema solar e depois para além... muito além...
Surgiram outros inimigos, mas nada conseguiu abalar aquele homem com voz de trovão e pensamentos inescrutáveis.
Ainda me lembro de quando o vi pela primeira vez em um restaurante. Ele estava calmo, fleumático, seguro, apesar do perigo que corria.
Foi exatamente assim que ele ficou quando descobriu que o sonho havia acabado... que anos e anos de trabalho haviam sido reduzidos a nada.
Mesmo quando todos nós perdemos a esperança, ele permaneceu firme.
Afinal, esse homem é Perry Rhodan.
Acho que devo contar a coisa desde o início.
Quando atravessamos a porta do Museu, encontramos uma cidade em ruínas. Aqui e ali havia marcas de sombras de pessoas gravadas no concreto, como retratos macabros.
Ao caminharmos pelas ruas, encontramos uma pessoa se arrastando pelos escombros. Era uma mulher carcomida pela radiação. Já não havia qualquer vestígio de pêlos em seu corpo e ela era incapaz de falar. Eu e Gucky tentávamos retirar alguma informação de seus pensamentos caóticos quando fomos abordados por um grupo armado com metralhadoras.
Eram seres humanos, mas apresentavam queimaduras na pele e estavam envoltos em trajes anti-radioativos. Eles estranharam nossas roupas espaciais e nos obrigaram a segui-los. Gucky pretendia elevá-los no ar e fazer mais uma de suas peraltices, mas Rhodan o impediu.
- Não, Gucky! Precisamos saber o que está acontecendo. Não faça nada.
Nós seguimos o grupo. Embora o local se parecesse com a Terra, em especial Washington do século XX, não nos atrevíamos a retirar o capacete. Mil hipóteses passavam por minha mente. Teria sido a Terra descoberta por um de nossos inimigos e atacada durante nossa ausência? Será que o planeta desconhecido apenas reproduzia a superfície da Terra, confundindo-nos com sua brincadeira sem sentido?
Estávamos todos pensando nisso quando nos deparamos com um abrigo contra ataques aéreos. Nós descemos por uma escada e demos com um amplo salão.
A imagem era surpreendente: dezenas de pessoas comprimiam-se em um espaço mínimo, todas com olhar assustado, algumas nitidamente cancerosas.
Súbito houve uma agitação. O mar humano parecia se abrir para a passagem de um personagem ilustre. Primeiro surgiram dois bruta-montes, que abriam caminho a cotoveladas. Atrás deles veio... Alan d. Mercant! Todos se ajoelhavam ao vê-lo, como se temessem ser castigados caso não o fizessem.
Reginal Bell avançou para abraçar o amigo.
- Mercant! Finalmente alguém conhecido!
Mas foi empurrado por um dos guarda-costas.
- Quem são vocês? – indagou Mercant, olhando para nós como se fôssemos vermes.
- Sou Perry Rhodan!
- Mentira! Rhodan morreu na Lua, anos atrás.
Olhamos um para o outro, sem entender.
- Não, eu não morri. Estou aqui. Eu e Bell...
- Os dois morreram na Lua, a primeira missão tripulada ao satélite. Isso foi pouco antes da guerra.
- Houve uma guerra atômica?
- Claro que sim! Estados Unidos e União Soviética resolveram suas diferenças jogando bombas uns nos outros. Quando as nossas primeiras bombas foram enviadas, a cúpula de Washington resolveu fugir, imaginando que a cidade seria o principal alvo dos mísseis soviéticos. O avião deles foi bombardeado e todos morreram. Eu, no entanto, tive uma intuição. Decidi ficar. Agora percebo que foi uma decisão acertada. Eles praticamente ignoraram a cidade. Acabada a guerra, eu era um das poucas pessoas que ainda tinha armas, comida e todo o resto. Tornei-me o rei desta cidade em ruínas.... Mas por que estou contando tudo isso a vocês? Todos sabem disso...Quero saber de vocês! Quem são? O que estão fazendo com essas roupas?
Ninguém respondeu. Rhodan parecia absorto em seus pensamentos.
- Eu perguntei quem são vocês! – gritou Mercant.
Rhodan levantou a cabeça, altivo, e respondeu:
- Já disse: Sou Perry Rhodan!
Mercant parecia possesso. As privações e o poder absoluto haviam mudado aquele homem.
- São loucos! Completamente loucos! Eu poderia matá-los agora, mas quero saber quem são e o que estão fazendo aqui. Tirem os uniformes deles!
Alguns homens avançaram contra nós e tiraram nossos trajes espaciais. Ao contrário do que eu esperava, nós não sufocamos. A atmosfera era respirável.
- Leve-os para o calabouço. Talvez as baratas e ratos façam com que eles saibam quem manda aqui.
Fomos empurrados na direção de uma portinhola. As pessoas abriam caminho para nossa passagem. Em seus rostos eu podia ver o medo e pena pelo que aconteceria com nós. Finalmente nos empurraram para dentro de uma sala escura e úmida. Logo comecei a sentir algo andando por meu corpo. Eram baratas. Ratos guinchavam de felicidade, antecipando o prazer da refeição.

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